14/06/11



Se alguém tentar escrever ou descrever não consegue, porque as palavras são parcas, não se comparam, não chegam aos calcanhares do que se sente. Não há Miguel Esteves Cardoso, nem mesmo dois ou três dele, que o façam e mesmo assim não se deparem, no final, com a sensação frustre de olhar para uma obra inacabada. Chego mesmo a pensar que um livro, por mais intenso que seja, nunca é verdadeiramente intenso como o foi a história, as personagens reais por detrás das páginas. Os lugares, os cheiros, por mais fiel que seja a descrição e a utilização das palavras, não chegam, não se assemelham ao real, ao vivido e sentido, ao que se presenciou, a quem presenciou. É por isso que me é frustre também esta sensação de que, por mais que tente escrever sobre um sentimento, não serei capaz de lhe ser fiel ou fazer juz a 100% se é quase impossível chegar-lhe. Como se estivesse de espada em riste a atacar um inimigo invisível que me atinge bem no âmago sem oferecer possibilidade de contra-ataque, porque afinal ele é que é inatingível, não eu. É como uma arena onde as palavras, fracas e trémulas, fazem frente ao gigante gladiador do real, do original, que é infinitas vezes mais forte. É uma luta desigual esta, das palavras face aos sentimentos se, no entanto, temos de as usar para os descrever, para os manifestar, até mesmo para os definir. É o que nos ajuda e, simultaneamente, o que nos prejudica. E, de tão intenso, até me parece metafísico e transcendente, senão a representação mais pura de Deus. Porque, crenças à parte, é essa a representação mais pura da existência humana: o amor. E quem sou eu para alcançar a essência do amor com palavras? Alguém é?



A questão aqui é que não sei nem consigo, porque a força é avassaladora, descrever o que sinto pela minha mãe.

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